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DADOS SUBMERSOS NO TEMPO ESPIRALAR

DATA CENTERS NA PAVUNA

MICROFICÇÃO

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MICROFICÇÃO

Na Pavuna, o entorno do data center é inundado e diversos pedaços de tubulações flutuam, fazendo sons estranhos ao se chocarem.

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TERRITÓRIO INFRAESTRUTURAL

Situada na zona norte do Rio de Janeiro, a Pavuna se configura hoje como um território densamente infraestruturado, atravessado por fluxos de energia, dados, mercadorias e pessoas. Essa condição, no entanto, não é recente — resulta de uma longa trajetória de territorialização de sistemas técnicos que moldaram o bairro ao longo do século XX e início do XXI.

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Historicamente marcada por usos industriais e logísticos, a Pavuna passou a atrair equipamentos de grande porte ainda nas décadas de 1940 e 1950, impulsionada pela proximidade com a Avenida Brasil e os eixos ferroviários que cortam a região. A instalação de galpões, depósitos e subestações elétricas acompanhou a expansão da cidade em direção à Baixada Fluminense, posicionando a área como uma interface entre o Rio e seu entorno metropolitano.

Nas últimas décadas, essa vocação se intensificou. A construção do Arco Metropolitano e a integração com corredores logísticos regionais ampliaram a conectividade do bairro com centros de produção e consumo em toda a região Sudeste. Mais recentemente, a chegada de data centers de grande escala — impulsionados pela demanda por serviços digitais e pela presença de infraestrutura elétrica e de telecomunicações robusta — consolidou uma nova camada técnica sobre o território. A Pavuna, hoje, participa ativamente da circulação de informações que sustentam desde operações financeiras até plataformas de streaming.

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Essa transformação técnico-espacial fez do bairro um verdadeiro ecossistema de mediação, no qual diferentes tipos de infraestrutura se sobrepõem: redes subterrâneas de dados, torres de energia, dutos, vias expressas, subestações, galpões automatizados. No entanto, essa densidade também revela suas fragilidades. Os alagamentos frequentes, agravados pelas mudanças no regime de chuvas e pela impermeabilização crescente do solo, comprometem o funcionamento de equipamentos essenciais e afetam diretamente os moradores da região.

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Pensar a Pavuna como território infraestrutural é reconhecer sua centralidade silenciosa nas dinâmicas urbanas e digitais da metrópole. É também um chamado à construção de políticas públicas que articulem planejamento urbano, justiça climática e cuidado com os territórios que, embora invisíveis no imaginário dominante da cidade, sustentam cotidianamente sua operação.

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EXPERIÊNCIA CORPORIFICADA

LEITURA POROSA AO TERRITÓRIO

Proposição realizada no primeiro período de 2024 como parte das atividades externas da disciplina "Forças da terra, práticas artísticas e infraestruturas". Consistiu em caminhadas pelo entorno do Rio Pavuna e do data center da Ascenty. A caminhada era acompanhada da leitura in situ do texto "Uma sedimentação da mente" de Robert Smithson, fundamental para a compreensão das aproximações entre arte e geologia, arte e antropoceno.

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"A superfície da terra e as invenções da mente tem uma maneira de se desintegrar em regiões discretas da arte. Vários agentes, tanto fictícios quanto reais, de alguma forma trocam de lugar uns com os outros – não se pode evitar o pensamento lamacento quando se trata de terra-projetos, o que chamarei de “geologia abstrata”."

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"As manifestações da tecnologia são por vezes menos “extensões” do homem (o antropomorfismo de McLuhan) do que agregados de elementos."

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"A mente das pessoas e a terra estão em constante estado de erosão, rios mentais desgastam bancos abstratos, ondas cerebrais minam penhascos de pensamento, ideias se decompõem em pedras de desconhecimento e cristalizações conceituais se partem em depósitos de razão arenosa."

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​"Os estratos da terra são um museu confuso. Incrustrado no sedimento está um texto contendo limites e fronteiras que fogem à ordem racional e às estruturas sociais que confinam a arte. Para ler as rochas, devemos nos tornar conscientes do tempo geológico e das camadas de material pré-histórico que estão sepultadas na crosta terrestre."

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"Máquinas de escavação e outros rastejadores que podem viajar por terrenos acidentados e gradientes íngremes. Brocas e explosivos que podem produzir túneis e terremotos. Trincheiras geométricas poderiam ser cavadas com a ajuda do “estripados” – ancinhos dentados de aço montados em tratores. Com esses equipamentos, a construção assume a aparência de destruição; talvez seja por isso que certos arquitetos odeiam tratores de esteira e escavadeiras a vapor. Eles parecem transformar o terreno em cidades inacabadas de destroços organizados. Um senso de planejamento caótico engolfa sítio após sítio."

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"O clima da vista muda de úmido para seco e de seco para úmido de acordo com a atmosfera mental de cada um.  [...]

 

O PROJETO POÇA DE LAMA

1.Cave uma área de 100 pés quadrados de terra com um forcado

2.Faça com que o corpo de bombeiros local encha a água com água.

3.A área será concluída quando se transformar em lama

4.Deixe secar ao sol até que se transforme em barro

5.Repita o processo à vontade."

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Vídeo elaborado pela bolsista de Pibic Laura Lanziero (Cinema - UFF)

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EXPERIÊNCIA CORPORIFICADA

HORTA ABANDONADA PELAS ENCHENTES

Proposição realizada no segundo período de 2024 e consistiu em uma caminhada meditativa pelo entorno do Rio Pavuna em direção ao data center da Ascenty. Paramos em distintos pontos para realizar exercícios de meditação, bem como visitamos o quintal de um morador do entorno do Rio Pavuna.

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O morador se dedicou por alguns anos ao plantio de mudas no seu quintal, mas após a enchente de janeiro de 2024 se desanimou, desistiu da plantação e iniciou um movimento de mudança do local.

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Conversamos sobre a história do Rio Pavuna (que há poucas décadas ainda era navegável, conforme o próprio morador testemunhou) e sua rápida transformação e poluição.

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O Rio Pavuna, com seus 14 quilômetros de extensão, tem sido historicamente impactado por processos de degradação ambiental. Desde meados do século XX, o curso d'água passou a receber esgoto doméstico sem tratamento e resíduos industriais, resultando em assoreamento e perda de biodiversidade . A retificação de seu leito e a urbanização desordenada ao longo das margens agravaram esses problemas, transformando o rio em um canal de drenagem comprometido, especialmente vulnerável durante eventos de chuvas intensas.

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​Em janeiro de 2024, chuvas extremas atingiram o Rio de Janeiro, acumulando volumes de até 400 mm em 24 horas em algumas áreas . O transbordamento do Rio Pavuna resultou em inundações significativas, afetando residências, infraestruturas críticas e serviços essenciais. Esse evento destacou a necessidade urgente de intervenções estruturais e políticas públicas voltadas para a revitalização do rio e a mitigação dos impactos das mudanças climáticas na região.

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