SENSOS DE CONEXÃO
CABOS SUBMARINOS NA PRAIA DA MACUMBA
MICROFICÇÃO
Sentindo o axé de um grupo de artistas-pesquisadores, um caxixi perdido na Praia da Macumba chacoalha temporalidades. No balanço das ondas, nas rajadas de ar: uma força de outro tempo sente seu corpo se arrepiar com o som do chacoalhar. Chacoalha o chão com a força do mar, atlântico sul que o chão veio derrubar, corrente que desabou o calçadão, que afundou. Força da água que erodirá e fará enchente na nuvem – na estação de cabo submarino que foi tocada - um caxixi de fibra óptica e microchips a chacoalhar.


TERRITÓRIO INFRAESTRUTURAL
Os cabos submarinos desempenham um papel crucial na conectividade global, e o Brasil, devido à sua posição estratégica no Atlântico Sul, é um ponto de destaque nesse sistema. Atualmente, a Praia do Futuro, em Fortaleza (CE), é reconhecida como um dos principais hubs de cabos submarinos do mundo, conectando diversos continentes. Contudo, outros pontos ao longo do litoral brasileiro também são importantes para essa infraestrutura tecnológica.
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Entre eles, destaca-se a Praia da Macumba, no Rio de Janeiro (RJ), que serve como um ponto estratégico para o ancoramento de cabos submarinos. Esse local integra a rede de pontos de entrada e saída de dados que atravessam o oceano, complementando outros locais como a Praia do Flamengo (BA) e Praia Grande (SP). A importância da Praia da Macumba reside na sua contribuição para garantir a robustez e redundância da conectividade brasileira com o restante do mundo.


praia da macumba
A origem do nome "Praia da Macumba", localizada no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, é uma história rica em fé, luta e tradição. Esse relato, primeiramente compartilhado em uma postagem do Jornal Abaixo Assinado, remonta às vivências de Judith Ibrahim Morgado, uma respeitada Mãe de Santo e pioneira da região.
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A História de Judith Ibrahim Morgado
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Judith, aos 16 anos, em 1945, já havia "feito o santo" na tradição da Umbanda. Durante uma excursão, conheceu a Praia do Pontal, um local ainda pouco frequentado na época, situado em uma área rural. Encantada com a beleza do lugar, ela fez uma prece aos Orixás, pedindo ajuda para adquirir um terreno naquela região à beira-mar.
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A concretização desse sonho foi um processo que se estendeu por décadas. Apenas nos anos 1950 os terrenos da área conhecida como Gleba B começaram a ser loteados por Joseph Wesley Finch, um americano que reivindicava ser o proprietário da terra, embora a legalidade de sua posse fosse questionável. Judith conseguiu adquirir, em 1973, um terreno localizado na comunidade conhecida como 8W, ao pé do Morro do Rangel. A compra foi realizada de forma parcelada, e o pagamento foi concluído em 1985.
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No entanto, a conquista não foi isenta de desafios. Judith enfrentou uma tentativa de fraude por parte de Leo Rumsen, um suposto grileiro que tentou reivindicar a propriedade. Apesar de suas manobras, incluindo o uso de uma assinatura falsa para invalidar a transferência do terreno, Judith conseguiu registrar a posse em cartório, garantindo a segurança de sua propriedade.
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A Fundação da Tenda Espírita no Recreio
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Antes de se mudar para o Recreio dos Bandeirantes, Judith já conduzia trabalhos espirituais em Nilópolis, na Baixada Fluminense, onde fundara, em 1958, a “Tenda Espírita do Grupo Sinai Irmã Ursula”. Em 1977, com seu sonho finalmente realizado, ela se estabeleceu na Rua 8W, nº 189, e deu continuidade ao seu trabalho espiritual, criando o primeiro centro de Umbanda da região.
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Os rituais e cultos eram frequentemente realizados em locais próximos à natureza, como a Praia do Pontal e a Pedra de Itapuã, que passou a ser conhecida como Pedra da Macumba. Esse nome reflete a relação histórica e espiritual do local com as práticas religiosas afro-brasileiras, perpetuando a memória de Judith e sua devoção aos Orixás.
A história da Praia da Macumba é um testemunho da resistência cultural e espiritual, além de destacar a luta por direitos de propriedade em um período marcado por incertezas jurídicas na região. Judith Ibrahim Morgado deixou um legado que transcende gerações, consolidando a presença de suas tradições em um dos pontos mais emblemáticos do litoral carioca.
EXPERIÊNCIA CORPORIFICADA
ENCONTRO COLETIVO MULTISENSORIAL E MEDIDATIVO SOBRE SUPERFÍCIES INFRAESTRUTURAIS
Proposição realizada em dezembro de 2023 pelo grupo de artistas-pesquisadores próximos ao Brisalab, Ananda Carcavalho, Fernanda Branco, Júlia Brasil, João Eliel, Walmeri Ribeiro e Fernanda Branco, além do jovem Sávio, que espontaneamente se agregou à ação.
A proposta foi de sintonizar coletivamente a respiração enquanto se tocam bueiros de fibra óptica e a estação de cabo submarino da Praia da Macumba.
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EXPERIÊNCIA CORPORIFICADA
BURBURINHO
Por um tempo de 30 minutos caminhar pelo território procurando trocar ideias com as pessoas sobre a presença da infraestrutura de cabos submarinos no local (se elas sabem que existe, se elas sabem onde estão localizados, se elas eventualmente têm memórias sobre a ancoragem desses cabos) e qual a impressão que elas têm da vulnerabilidade do território ao avanço do mar com as mudanças climáticas.


BURBURINHO
Como a Praia da Macumba é dividida em dois trechos pela Pedra onde estávamos fazendo o exercício, o grupo se dividiu em dois lados e, na prática, em três grupos diferentes (1. Sávio e João Eliel; 2. Walmeri Ribeiro e Fernanda Branco; 3. Júlia Brasil, Ananda Carvalho, Ruy Cézar e Bárbara Lito).
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No grupo 3, saímos caminhando e abordando algumas pessoas pelo caminho.
Tivemos duas conversações que renderam nossa atenção. A primeira foi com dois homens que estavam se exercitando no calçadão. Um deles se chama Raul e, surpreendentemente, é um pesquisador de doutorado da Universidade da Geórgia, da área de antropologia, e que pesquisa infraestruturas de saneamento na região. A conversa rendeu bastante, com o estranhamento da situação e ao mesmo tempo a afinidade epistemológica. Ele comentou sobre ter visto um navio e uma operação técnica acontecendo entre agosto e setembro de 2023 e indicou a possibilidade de que aquilo pudesse ter a ver com o cabo submarino. Trocamos contato e uma semana depois da atividade ele enviou um cartaz informativo distribuído pela Petrobrás pelo território.
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A outra conversa foi iniciada por Ananda Carvalho com o trabalhador de um quiosque que falou sobre sua percepção da erosão da Praia da Macumba como estando relacionada à força da natureza, mas não necessariamente às mudanças climáticas. Além disso, ele comentou sobre a presença de navios e plataformas no começo do semestre e parecia estar seguro de que aquilo tinha a ver com cabos submarinos.
Outras pessoas foram abordadas no processo, mas poucas sabiam dar alguma informação sobre os cabos submarinos.
Do outro lado da praia da Macumba, a primeira abordagem do grupo 1 se deu em um quiosque. A pessoa com quem conversaram informou da presença de uma obra no calçadão que poderia estar relacionada com o cabo submarino. O grupo conversou com outras pessoas, mas guardou a atenção dessa informação para compartilhar com o coletivo inteiro quando houvesse o reencontro.
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O grupo 2 caminhou pela praia, conversou com algumas pessoas sobre os cabos submarinos, mas não obteve informações. Com isso, focou no encontro com uma infraestrutura de contenção de erosão encontrada na praia e organizou uma atividade para o momento do reencontro com o coletivo.
O “burburinho” durou cerca de 40 minutos e culminou com o reencontro do grupo em um cruzamento onde há a presença de um bueiro que marca a presença de um cabo submarino no local. Após compartilharmos nossos relatos sobre a experiência, nos juntamos no entorno do bueiro ali próximo para realizarmos o primeiro encontro com uma superfície infraestrutural, proposto pelo grupo 3.
EXPERIÊNCIA CORPORIFICADA
ARQUEOLOGIA DA MÍDIA



A CHEGADA DO PRIMEIRO CABO SUBMARINO TRANSATLÂNTICO NO RIO DE JANEIRO
25 de dezembro de 1873
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Efetuaram-se ontem em Copacabana, como tínhamos anunciado, os trabalhos para a colocação do cabo submarino trazido pelo vapor Hooper. Pouco depois das 11 horas da manhã largaram a bordo do vapor os lanchões com o cabo, dirigindo-se para a terra, sendo auxiliados estes trabalhos por uma lancha do arsenal de marinha com a sua tripulação.
Antes do meio dia tinha o cabo chegado a ponta da Ermidinha, passando-se então a delicada operação do assentamento. Nesta ocasião chegou Sua Magestade o Imperador, acompanhado de seus semanários: era quasi mei-dia e na sua presença continuaram os trabalhos. Em uma pequena casa próxima a igreja, a qual tem de servir provisoriamente de estação, achava-se disposto o aparelho telegráfico e para ali foi conduzido o fio, trabalho este, que terminou às 2 horas.
A facilidade com que correu esta operação, espetáculo aliás curioso para os espectadores, tornou-se ainda mais notável quando a perícia e prática dos engenheiros ingleses conseguiram em poucos minutos preparar e montar o aparelho, em condições de poder funcionar. Foi então convidado o chefe do Estado, cuja presença e palavras animadoras bem demonstravam o interesse que ligava a este importantíssimo melhoramento, a encetar as comunicações, fazendo por si próprio a experiência.
Sua magestade aproximou-se então do aparelho transmissor e a atenção de todas as pessoas presentes se fixou no receptor, esperando ansiosas a prova evidente da realidade deste incentivo elemento, que tem transformado as relações de todos os países e secundado os seus comuns esforços para apressar a marcha progressiva da civilização moderna.
Marcou o Imperador no teclado o sinal que indica: atenção; e em menos de um minuto tinha a estação da Bahia respondido ao sinal, o que indicava que o cabo se achava perfeitamente desembarcado. Manifestou-se em todos os semblantes a mais pronunciada sensação de prazer; desde o soberano até aos admirados pescadores do lugar, que ali se achavam para confirmar a benevolência do augusto chefe do Estado, todos sentiram vibrar o sentimento de patriotismo, vendo realizado um melhoramento que é o indício mais patente do muito que já temos trabalhado para alcançar a posição que está reservada a este grande país, e também do auxílio poderoso que ele nos vem proporcionar para tornar mais breve esse resultado. Sincero regogizo este, que dá ideia de que a todos os sentimentos predomina o do amor pela pátria e seu progresso.
Em consequência da declaração do engenheiro em chefe, de que havia necessidade de ajustar e preparar o aparelho com mais segurança para se poderem despedir os despachos, não foram transmitidos naquela ocasião as saudações do Imperador às província da Bahia, Pernambuco e Pará, tendo os telegramas ficado na estação para depois serem transmitidos, o que provavelmente se efetuou, tendo também Sua Majestade tido o prazer de receber ontem no paço de São Cristovão as respostas dos presidentes daquelas províncias. (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, p. 1, 1873)
BURBURINHO
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SUPERFÍCIES INFRAESTRUTURAIS
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COMANDOS ANFÍBIOS
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EXPERIÊNCIA CORPORIFICADA DE CONTRASTE
EXERCÍCIO MILITAR


Entre os dias 20 e 24 de maio de 2024, e de forma inédita, navios, Mergulhadores Escafandristas, além de tropas de Operações Especiais (Mergulhadores de Combate e Comandos Anfíbios) e embarcações do Comando em Chefe da Esquadra da Marinha do Brasil, realizaram um treinamento de defesa da infraestrutura de cabos submarinos na Praia da Macumba.
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Além do foco nas infraestruturas críticas submarinas, a Força-Tarefa também aprestou as ações voltadas às estações terrestres de cabos submarinos, no litoral do Rio de Janeiro, inclusive com a utilização de drone de superfície.
O treinamento foi coordenado pelo Comando Naval de Operações Especiais a bordo do Navio de Socorro Submarino “Guillobel” e contou com a participação do Gabinete de Segurança Institucional; da Agência Reguladora de Telecomunicações; do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e da Agência Nacional de Telecomunicações de Portugal. Além disso, diversas Empresas de Telecomunicações contribuíram para a realização do evento, dentre elas, a Claro.
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Durante o exercício, foram simuladas situações reais ocorridas no Brasil e no mundo nos últimos 4 anos. O modelo de treinamento adotado é inspirado na trindade europeia: conhecer – vigiar – agir e, para aplicá-lo foram necessários cinco mergulhos seguindo o passo a passo a seguir:
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1) Ter a noção coletiva e efetiva da situação real;
2) Aperfeiçoamento de procedimentos e legislações para melhorar a segurança;
3) Fomentar o monitoramento e o registro da presença de embarcações que ficam em áreas próximas aos cabos;
4) Adquirir inteligência marítima e melhorar a passagem de satélites georreferenciados sobre a posição desses cabos;
5) Conhecer os sensores e os sistemas de monitoramento constante da Amazônia Azul;
6) Operar esses sensores e os meios (navios) para a efetivação desse monitoramento constante;
7) Testar a resiliência dos sistemas contra uma sabotagem ou um incidente de navegação do tráfego aquaviário